PELA JANELA DO CARRO

Quase todos os dias dos últimos 04 anos coloquei meus pés na Avenida Paulista. Fosse descendo do ônibus, saindo do metrô, finalizando a corrida com motoristas de Uber e taxistas ou agradecendo pelas gentis caronas que já recebi. Posso dizer, sem dúvidas, que ela se tornou o meu lugar favorito de São Paulo, onde me sinto pequena e feliz, vendo tantas pessoas diferentes. Nela, já admirei mulheres que parecem ter empregos importantes. Já esbarrei, sem querer, em homens de terno. Já sentei no chão para conversar com um de seus tantos moradores de rua, que foi uma das pessoas mais inteligentes que já conheci. Já respondi àquelas pesquisas que quase ninguém tem paciência ou tempo para dar atenção. Já participei de entrevistas para os jornalistas da Gazeta. Já ajudei aqueles palhaços, que elogiam os pedestres na tentativa de arrecadar fundos para uma ONG que cuida de crianças. E já a visitei em muitos domingos, sozinha, para ver as famílias, as turmas de todas as tribos, os animais, os shows, as comidas e toda a boa energia que vem desse lugar. E ela, minha amada Avenida, já me viu em todos os meus estados: triste, morrendo de saudades da minha família; feliz, por ter encontrado tanta gente boa nessa cidade; cansada, após uma aula pesada de Pilates; angustiada, por não ter ido tão bem em uma prova; eufórica, por um novo amor; ansiosa, por um final de semana; corrida, atrasada para a faculdade ou para ir ao aeroporto; saciada, após uma boa refeição e, principalmente, grata, por estar vivendo um sonho. Hoje nos encontramos de um jeito diferente. Ela está quase vazia, sem a sua diversidade, que tanto me atrai. E eu não encostei os meus pés em seu asfalto, apenas as rodas. Se meu internato não continuasse, neste momento tão delicado, talvez não nos encontraríamos hoje. E, por isso, mesmo em meio ao caos, sou grata. Saiba, querida Paulista, que o seu brilho continua aí. Tome esse tempo para respirar, como todos nós estamos fazendo. Que, logo mais, tudo volte ao normal e o vazio das ruas seja preenchido pelo calor que vem renascendo em nossos corações.