Face a gravidade da situação da pandemia do novo coronavírus (SARS-Cov-2) em todo o mundo e os números crescentes de infectados no Brasil, inúmeras ações tem sido desenvolvidas no sentido de combater o exponencial avanço, quase incontrolável, da disseminação desse vírus. Nessa última semana, vários tem sido os questionamentos sobre a utilização de máscaras faciais caseiras, improvisadas para ajudar a proteger aqueles que, possivelmente, poderiam estar em risco de contágio, devido ao contato próximo ou frequente, com pacientes sintomáticos.
As máscaras faciais caseiras parecem bastante satisfatórias para impedir a contaminação por perdigotos, ou gotículas de material fluido, expelidos pela fala e/ou pela tosse e/ou pelo espirro. No entanto, é sabido que essas máscaras fornecem pouca ou nenhuma proteção contra micro-organismos aerossolizados (microgotículas suspensas no ar) de pessoas infectadas com doenças respiratórias infecciosas contagiosas.
Entretanto o efeito da utilização dessas máscaras pode ir além da proteção ou não, pois podem ter um significado de respeito pelo momento que estamos vivendo e a responsabilidade de que cada indivíduo deve se comportar como um “soldado” e deve ter um papel ativo nessa batalha.
O Ministério da Saúde, publicou uma Nota Técnica sobre o uso de máscaras caseiras, orientando a população a confeccionar suas próprias máscaras, utilizando tecidos como algodão, tricoline, TNT, ou outros tecidos. As máscaras quando confeccionadas em tamanho adequado, bem ajustadas ao rosto, utilizadas individualmente e higienizadas de forma correta, oferecem garantia de uma boa barreira mecânica, auxiliando na diminuição de casos de Covid-19, sobretudo quando utilizada em conjunto com outras medidas preventivas recomendadas pelo MS e pela OMS. Essa não foi uma medida intempestiva baseada em opinião pessoal. As evidências sugerem que o vírus da Covid-19 pode ser transmitido antes do início dos sintomas, ou mesmo da ausência deles. A transmissão na comunidade do novo coronavírus, e de tantos outros agentes infecciosos, poderá ser reduzida se todos, incluindo pessoas que já foram infectadas, passassem a usar máscaras faciais, mesmo que caseiras.
Porém, o uso de máscaras faciais cirúrgicas aumentou substancialmente desde o início dessa pandemia. Esse aumento do seu uso, pelo público em geral, agravará a escassez global da oferta de máscaras faciais para os profissionais da área da saúde. Com os preços subindo e os riscos de restrições de fornecimento aos profissionais de saúde da linha de frente, é primordial, nesse momento, que as pessoas tenham respeito e entendam que as máscaras cirúrgicas industrializadas sejam priorizadas para atender as necessidades dos profissionais de saúde da linha de frente (que necessitam utilizar as máscaras de elevada eficácia para a filtração de micropartículas respiratórias) e para os indivíduos sintomáticos respiratórios.
Medidas de isolamento social planejado, extensa disponibilidade de testes diagnósticos confiáveis e a adequada provisão de recursos médico-hospitalares para vencer essa guerra devem ser os objetivos de todas as nossas ações. A união de esforços colaborativos governamentais com a comunidade científica e com a comunidade em geral é primordial para que possamos alcançar um objetivo final menos sofrido para todos, isso também é respeito.
Texto publicado no Jornal O Popular no caderno "Opniões" por Marcelo Fouad Rabahi - Médico pneumologista e Professor Titular da Faculdade de Medicina da UFG.
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